Entre Sonhos e Cicatrizes
- Alessandra Martins

- 5 de ago.
- 2 min de leitura

Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Alessandra,
ser livre na vida.
Saí de Caxias, Baixada,
Porque sempre gostei de bater
perna, dar umas andadas.
Me chamavam de atentada,
muitos falavam: - Que ousada,
é louca, perturbada!
Outros pensavam... sapeca,
espevitada ou até mesmo
safada.
Os frustrei, não atendi
suas expectativas.
As quebrei, e o estereótipos
que criam em torno
de mim.
Sobrevivi às estatísticas.
Venci.
Me recriei.
reinventei
Os rótulos retirei.
Não que eu seja mais esforçada.
Sortuda, talvez.
Com certeza abençoada,
ou até privilegiada.
Carrego axé, iluminada,
guiada pela fé.
E tive uma família
aparentemente
estruturada, mas tenho tantos
traumas que hoje penso
em disfunção.
Não nasci rica, nem nunca
ganhei mesada.
O que eu ganhava mesmo era
supapo.
Tapa.
Correiada.
Meus pais sempre estiveram
juntos, apesar das confusões.
Se esforçaram como puderam.
Isso contou em minha
formação.
Muitos não têm pai, teto,
comida, ou afeto, muito menos
uma educação.
Acreditar é mais fácil quando se
tem um lar, algo para comer,
alguém para te incentivar,
planejar e te cobrar a chegar
em algum lugar.
Estou aqui no States,
desbravando esse mundão.
Sonho americano existe,
mas não caia nessa ilusão.
Sonhe e realize!
Mas tenha sempre os pés
no chão.
Muitos vivem vidas vazias,
onde é pura ostentação.
Lembre-se: o que mais vale
em você não é seu carro,
seu dinheiro, sua mansão,
mas sua alma, sua essência,
sua boa intenção.
Tudo passa, tudo se vai.
mas ser alguém que faz o bem
reverbera de geração
à geração.
Mundo, mundo, vasto mundo,
meus pés são de vagabundo,
andando nessa e naquela
direção.
Mundo, mundo, vasto mundo,
trabalhador é meu coração,
que além de bater,
pulsa poesia e canção.
— Alessandra Martins


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